Calendário 2010

Calendário 2010

quinta-feira, 30 de abril de 2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA-SÉRIES/INICIAIS
PROJETO IRECÊ CICLO DOIS 2009.2
ATIVIDADE N° 2216: ALFABETIZAÇÃO
PROFESSORA: GEOVANA ZEN
ORIENTAÇÃO: SOLANGE MACIEL
CURSISTAS: GICÉLIA BATISTA NUNES , ARIANDENES E MARIA LEIDE NERES


INTRODUÇÃO

“A escola não alfabetiza, ela dá continuidade a um processo de alfabetização já em pleno desenvolvimento”.
(Paulo Freire)

Aqui está um trabalho feito após a reflexão de uma atividade proposta pela professora Geovana Zen, na oficina de alfabetização para a aplicação de um diagnóstico em uma turma de 1º ano do Ensino Fundamental 1 na sala da professora Joselia Barreto Nunes, turma com 23 alunos. Essa turma é de alunos de uma escola de bairro periférico, a Escola Municipal Paraíso, que fica localizada no bairro Paraíso, a uma distância de aproximadamente 3 Km centro da cidade Irecê no estado da Bahia.

É uma turma composta por alunos, que na sua maioria ainda não tinha frequentado a escola sendo este, o primeiro ano na escola. Assim, para se planejar um trabalho que de fato fosse significativo, foi aplicada inicialmente uma avaliação diagnóstica toda a turma. A avaliação consistia em uma produção de uma lista de brinquedos e uma frase. A lista seria feita com lista de brinquedos conhecidos por eles. A frase era formada com nome de um dos brinquedos que fazia parte da lista. Era uma avaliação diagnóstica sem intervenção, para que fosse mapeada com fidedignidade as hipóteses de leitura e escrita de meninos e meninas, pois eles tanto produziam, como também tinham que ler. Pois, o diagnóstico tem como características bases três aspectos que podemos destacar como necessários para uma prática de sala de aula significativa. Os aspectos segundo uma das Coordenadoras Pedagógica da rede municipal de Irecê resumem-se em:

O diagnóstico permite identificar os conhecimentos prévios dos alunos para que se possa avaliar/reavaliar/planejar/replanejar para uma prática pedagógica mais significativa. O diagnóstico é um instrumento que deverá ser usado a cada nova etapa de trabalho é o elemento que dá as coordenadas para o planejamento, formação e avaliação. É o instrumento que norteará todo trabalho do educador lhe indicando os aspectos a serem priorizados.

O mapeamento das hipóteses de escrita e leitura foi representado em uma tabela com os resultados das produções da avaliação diagnóstica. Dos 23 alunos que foram avaliados diagnosticamente 02 crianças encontravam no nível Alfabético, pois já realizavam sistematicamente uma análise sonora das palavras que escreviam, verificamos também que eles já conseguiam distinguir o que são letras, sílabas e palavras, identificando frases curtas; 06 estavam no nível silábico alfabético, visto que neste nível a criança conhece todas as letras do alfabeto, mas poderá colocar qualquer letra para algumas sílabas, deixando a palavra com escrita confusa, não apresentando forma fixa para escrita; 04 estavam com o nível silábico sem valor sonoro, pois sua leitura e escrita é silábica, porém ainda não realizavam sistematicamente uma análise sonora das palavras que escreviam; 03 encontravam-se com o nível silábico com valor sonoro, apresentavam a segmentação quantitativa das palavras, tantos sinais gráficos quanto as vezes que se abre a boca para pronunciá-las, apresentando uma letra em cada sílaba, demonstrando seu valor sonoro;
08 desses alunos estão com o nível pré-silábico apresentavam uma escrita sem dar importância ao registro sonoro do que foi proposto para a escrita. A escrita dos alunos pré-silábicos são riscos típicos do ambiente alfabetizador, então percebemos que sabe que as letras servem para escrever, mas ainda não sabe como isto acontece, ou seja, não consegue formar claramente as sílabas e palavras, sendo que desses alunos,
05 estavam escrevendo pré-silábico indiferente, sem noção da quantidade de letras usarem, então escreve sem parar aleatoriamente;
03 já possuem uma escrita diferenciada, isto é, já compreende o sistema de escrita que, palavra pequena escreve com menos letras e assim por diante.

TABELA DE HIPÓTESES DE ESCRITA

A ESCRITA
“ (…) não é um mero acessório.
Não é apenas um “vestígio” ou uma
“pegada”; é o suporte
da construção de uma caminhada.”

(Hesbeen, 2000)


Depois do mapeamento das hipóteses de escrita e leitura dos alunos, elaboramos o planejamento de uma aula com agrupamentos produtivos tendo como objetivo, levar as crianças a refletirem sobre o sistema de escrita, possibilitando desenvolver nos alunos habilidades leitoras e escritoras.

Depois de realizar a avaliação diagnóstica, faz-se necessário que o professor identifique os saberes relacionados a escrita e a leitura de seus alunos logo no início do ano letivo. Esse levantamento é passo fundamental para organização das rotinas das salas de aula, assim como para o planejamento das intervenções do professor. Entretanto esse tipo de registro instrumentaliza o professor na identificação de como esses alunos iniciaram o ano letivo considerando posteriormente, seus avanços ou dificuldades. Segundo um trabalho não publicado de uma Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de Educação de Irecê “Dia-gnóstico é um instrumento de avaliação que não se deve aplicar, mas servir-se, lançar mão, utilizar-se dele para o acompanhamento de todo processo ensino aprendizagem.” (ROCHA, 2008, slide nº 05)
A professora Joselia Barreto, ficou feliz com a atividade desenvolvida em sua turma, pois a mesma relata que mesmo em seu primeiro contato alunos e alunas do grupo 06, esta atividade possibilitou a identificação das hipóteses de escrita e leitura através do mapeamento, para então traçar estratégias significativas para o avanço da turma.



Escola Municipal Paraíso
Caminho 17 s/n
Fone: (074)36411052
E-mail:escolaparaiso2006@yahoo.com.br


PLANEJAMENTO DE AULA


AULA DE AGRUPAMENTOS PRODUTIVO

TURMA
G- 06 (1º Ano do Ensino Fundamental de Nove Anos)

TEMPO PREVISTO
50 minutos

ATIVIDADE
Escrita e leitura "sistema de escrita"

ÁREA
Lingua Portuguesa

CONTEÚDO
Alfabeto
Produção de leitura
Produção de escrita

v OBJETIVO
· Que as crianças reflitam sobre o sistema de escrita,


ENCAMINHAMENTOS

Consigna


Hoje vocês irão trabalhar com uma atividade muito legal, na qual vamos agrupá-los com colegas, para realização da atividade proposta, será um ajudando o outro certo? No entanto, serão três tipos de atividades, todas com um texto bem conhecidos de vocês, "pirulito". Alguém aqui desconhece essa música? Que bom que todos vocês aqui conhecem. Então vamos realizar a atividade e as professoras estarão passando perto de cada grupo para esclarecer qualquer dúvida, combinado?




AGRUPAMENTO PRODUTIVO

Alunos Silábicos Alfabético com silábicos com valor sonoro

Possíveis Questionamentos


Leiam novamente essa palavra. É essa mesma que você precisa? Com que letra começa?
Vamos relembrar a música. "Pirulito que bate bate" Que palavra vem em seguida?
Então vamos lá, é isso mesmo. Qualquer dúvida cante a música baixinho para relembrar. Todas as palavras que compõe a música estão aí. Lembram que não pode sobrar e nem faltar nenhuma palavra.


Alunos Silabicos Alfabético com Alfabético

Possíveis Questionamentos


Vocês estão recebendo todas as letras que formam essa música. Será necessário vocês lembrarem que não pode sobrar e nem faltar nenhuma letra. Pensem, não está faltando nenhuma letra? Leiam novamente essa palavra. Todos concordam com a escrita dela? Muito bem, então vamos pra a próxima palavra. Ótimo! Eu sabia que vocês conseguiriam.



Alunos Pré-Silabicos com Silabico sem valor sonoro

Possíveis Questionamentos

Bom vocês estão com três conjuntos de letras para montar a música apresentada. Vamos todos participar, podendo um colega ajudar o outro. Com que letra começa essa palavra? E onde está essa letra? Será mesmo essa letra? Falta mais uma letrinha? O que vocês acham?

AVALIAÇÃO

A avaliação foi através da participação da turma, observando as hipóteses que cada um se encontrava levando em conta a capacidade do raciocínio lógico, análise das reflexões sobre o sistema da escrita considerando o mapeamento feito através dos diagnósticos.


Na semana seguinte realizamos a atividade de agrupamentos produtiva com três tipos de atividades diferenciadas. As características concretas do alunado são importantes, pois como se trata de atividades que são realizadas em agrupamentos, saber o que os alunos já dominam é fundamental para organizar bons agrupamentos.


Decidimos trabalhar com a “música ‘pirulito” por ser um texto do conhecimento das crianças, onde agrupamos alunos silábico alfabéticos com silábicos com valor sonoro, ficaram dois grupos de 03 crianças com a montagem da música em palavras soltas, um grupo de 04 crianças, alfabéticos com silábicos alfabéticos e 03 grupos de alunos pré-silabico com os silábicos sem valor sonoro.

O que mais nos chamou atenção foi o quanto um tipo de atividade como essa leva a criança a refletir no processo de escrita com o colega. Mostrando o que é a aprendizagem colaborativa, participativa e coletiva. A aluna K. S. com a hipótese silábica com valor sonoro estava procurando a palavra "gosto" dizendo começar com a letra "o", só que L. X. muito esperta estando silábica alfabética, encontrou a palavra e disse: Gosto começa com "g", enquanto isso, a aluna ficou olhando para a palavra, falando baixinho, repetindo várias vezes, observando o valor sonoro saindo da sua boca.

Em relação ao processo de construção do sistema de representação da escrita e dos aspectos gráficos pelas crianças, é importante que o professor, busque compreender e valorizar o nível em que as crianças se encontram, questionando, criando conflitos, tanto por meio de perguntas, quanto na própria organização dos materiais com os quais as crianças irão trabalhar. Assim, as crianças não precisam pensar na sua estrutura e organização, concentrando-se nas letras que necessitam usar para formar palavras.

A aprendizagem da leitura e da escrita é de grande importância na vida da criança, para que esta adquira conhecimentos posteriores mais significativos e, cabe à escola propiciar um ambiente alfabetizador. Dos 23 alunos presentes, somente um aluno se recusou em participar da atividade proposta, mas com insistência conseguimos inseri-lo ao grupo adequado a sua hipótese de escrita e leitura, apenas entretendo com as letras. Esse grupo ficou com três conjuntos de letras.

Apresentamos a atividade através da consigna, depois que organizamos eles em grupos distribuímos os três tipos de atividades, também nos chamou atenção a questão dos agrupamentos e distribuição das atividades diferenciadas porque em momento algum questionaram o porquê da atividade diferenciada.

Sempre trabalhamos com grupos maiores e é comum quando oferecemos atividades diferenciadas eles recusarem a fazer, questionando o porquê da diferença, talvez seja pela idade, que crianças de seis anos pode ainda não fazer esse tipo de comparação. Na realização da atividade alguns grupos demonstraram algumas dificuldades, por não compreender e interpretar o sistema de escrita como é o caso dos pré-silabicos com os silabicos sem valor sonoro.

No momento em que detectamos essas dificuldades, propomos que eles fizessem da forma que eles sabiam, usando intervenções com alguns questionamentos como: Quais as letras aqui presente que vocês conhecem? Então vamos lá, com que letra começa a pirulito? Quais letras vocês precisam para montar essa palavrinha? Vamos falar a palavra observando o som? Que letra tem esse som inicial? Entre outros. Depois das intervenções, os três grupos participaram ativamente da atividade, porém não conseguiram montar o texto corretamente, utilizavam mais letras do nome deles. O mais interessante que achamos é que também os alunos não entravam em conflito pela diferença das letras utilizadas no nome da cada um. Nada mais apropriado do que o poema intitulado Aula de Leitura de Ricardo de AZEVEDO (1995, p. 41-42) para ilustrar essa idéia:


A leitura é muito mais
que decifrar palavras.
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender:
Vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão;
nas ondas do mar,
se é hora de navegar;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou vai lento;
e também na cor da fruta,
e no cheiro da comida,
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo,
Uma arte que dá medo
a de ler um olhar,
pois os olhos têm segredos
difíceis de decifrar.

No caso de leitura, a atividade trabalhada nessa aula é de fundamental importância para a sua formação leitora, ajustamos a leitura ao texto que já conheciam de memória (que foi a letra da música pirulito). É uma atividade que requer uma atenção toda especial por parte do professor alfabetizador, porque é necessário dar atenção a todos os grupos com intervenções dinâmicas e inteligentes. Segundo FREIRE, “a leitura de mundo precede a da palavra” (1985, p.11), com isso querendo alertar para o respeito que devemos ter com essa leitura de mundo de nossos alunos, pois esta se inicia muito cedo, antes mesmo de aprender a decifrar o código, o professor propondo problemas ao aluno, lançando novas questões, sistematizando o saber construído, os alunos buscando resolver problemas, desafios, mobilizando instrumentos já conhecidos, experiências vividas, sem a intervenção direta do professor. Nesse sentido, ensinar é planejar a intervenção, realizá-la e refletir sobre ela, de modo que o aluno aprenda sendo sujeito da construção de seu próprio conhecimento, na interação com os professores e os colegas.


Ainda nos fala Freire1985, chamando atenção para a idéia de que, desde o início da vida, o homem capta, através dos sentidos, o mundo a sua volta e estabelece com ele interações: os sons, cheiros, sabores, texturas, imagens que fazem parte do universo que está a sua volta , constituindo-se no processo de leitura, para ele, se o contexto que envolve a criança for rico em informações e dinâmico, provocador de novas situações estimulantes para se comunicar, mais preparada estará para o processo efetivo de alfabetização.

Tudo isso colabora para aguçar a percepção das coisas e contribui para essa leitura que antecede à da palavra escrita, foi o que presenciamos ao desenvolver essa atividade.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Faz-se necessário destacar que, embora seja muito importante, a linguagem escrita não deve ser o único aspecto a ser privilegiado nas propostas pedagógicas das escolas no seu trabalho com as crianças que ingressam aos seis anos no ensino fundamental. Provavelmente há diferenças individuais no grupo em relação ao conhecimento, mesmo estando à criança no mesmo nível de escrita e leitura, com esse tipo de atividade a aprendizagem podem ser esperados e o que precisa ser enfocado com intensidade durante o processo, visando o alcance dos objetivos propostos.

Antes de iniciar a aula, ficamos um pouco apreensivas diante de tamanha diferença de habilidades, acreditando não conseguir alcançar o objetivo da atividade proposta "Levar o aluno refletir sobre o sistema de escrita", porém os resultados foram totalmente inesperados. No entanto, percebemos que os problemas e dificuldades são constantes nas escolas, porém ficamos angustiadas com os resultados do diagnóstico, mas ao mesmo tempo satisfeitas com a realização das atividades, sabendo que contribuímos com o trabalho da professora Joselia Barreto, pois ali entregamos o mapeamento do diagnóstico e juntamente sugestões de atividades com agrupamentos produtivos, uma vez que, apesar de tratando-se de escolas pública, que atende um público de classe baixa, vimos que este aspecto tem pouca interferência nos avanços da aprendizagem, principalmente nas Escolas da Rede Municipal de Irecê, pois, os professores têm desempenhado um excelente trabalho pedagógico, demonstrando entusiasmadas na melhoria do processo educativo, envolvendo todos os alunos tanto nas atividades de escrita como nas atividades de leitura, através de poesias, gravuras, músicas e dinâmicas diversificadas, respeitando a faixa etária e o nível de aprendizagem de cada criança.

Acreditamos que transformação é possível e que a escola pública ainda é a “porta” de entrada da camada social baixa, para alcançar uma posição social mais estável. Haja vista que, a maioria das crianças demonstra determinação em aprender, pois, no momento da aplicação das atividades práticas, todos queriam participar de forma espontânea, esforçando-se para fazer o melhor dentro de seus limites. Então, podemos dizer que é necessário estabelecer um processo de interação entre a escola e a família para que juntos possam contribuir para uma aprendizagem realmente prazerosa e significativa. Nessa fase, é muito importante ressaltar que sejam desenvolvidas propostas voltadas para a construção da autonomia da criança, na perspectiva do autocuidado; para a vivência dos movimentos no espaço, estruturando sua corporeidade; para a exploração do mundo físico e social.

O desenvolvimento do processo da leitura e da escrita é de fundamental importância nas classes de alfabetização, pois a partir do momento em que a criança começa a ler e escrever passa a ter uma nova maneira de interpretar fatos que acontecem no mundo em que vive. Antes mesmo de a criança saber ler socialmente, ou seja, ler como as pessoas alfabetizadas, já observa, pensam e vão adquirindo concepções individuais a respeito dos símbolos lingüísticos. Tais concepções serão muito importantes para desenvolver a consciência do valor social da língua, que começam a ser construídas desde o nascimento. Assim, diante de toda discussão e pelo que percebemos nas atividades analisadas, no que precisamos fazer para desenvolver cada atividade, no papel desenvolvido por cada um é possível sim alfabetizar uma turma.




REFERENCIAS

AZEVEDO, Ricardo. Dezenove Poemas Desengonçados. São Paulo: Ática, 1998, p.41-42
FRIERE,Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1985. pag .11 .




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